ZENOZINE

  Caqui   não tenho sementes igualzinho este caqui – tarde de outono Dia das Mães dia das mães – a mãe solteira busca o filho na creche Sardinha balança antiga  – e uma pilha de jornais na banca de sardinha não deixa em paz minha sardinha fresca – mosca de outono após o almoço as espinhas das sardinhas na toalha de papel

  buraco na rua   – substitui o cavalete o bambu do ano

  manhã de carnaval – a folia da maritaca solitária no poste   notívago girassol – de madrugada aponta pra via-láctea  

                                 tarde de trovões – no furoshiki de seda algumas poncãs   cuspo pela rua  as sementes de poncã – mormaço de verão   voltando da feira                        descasco uma poncã       com o polegar     

  chuvisco outonal as alunas de yoga debaixo das árvores  o pipoqueiro apaga a lâmpada do carrinho – chuvisco outonal   cheiro de pamonha na saída do teatro  sobe o vapor  Parque do Trote – despedida de andorinhas na pista de atletismo  

  o carro funerário passa no farol vermelho vida que segue 

tanto o choro como a chuva de verão derrubam árvores

  os pés de José descobertos no altar  – tempo quaresmal tempo quaresmal  – me ponho a caminhar de igreja em igreja tempo quaresmal  – no choro acalma-se  as tempestades

  verão avançado meu fio de cabelo na teia de aranha

  oito de março - minha mãe não tirou carteira de motorista  

    policial ao lado – a latinha de cerveja de boca em boca   domingo de carnaval – o banheiro químico se mexendo sozinho terça de carnaval – a folia da maritaca sozinha no poste fim do carnaval  – no chão da farmácia confetes azuis